sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Uma Carta Aberta

E vai aquem interessar possa

No burburinho de pouca gente na praça, a caneta corre solta, feliz. Felicíssima.Pois andou meses atarefada com conversa séria, doida por uma parolagem fácil e feliz com o papel nas linhas como compasso, de pura bestice embromativa, bem próprio de caneta que súbito se desocupa.
Pois esta é uma carta aberta. Aberta a todos, a quem aqui passar. E mais ainda de sentido. Pois o tempo me foi minguando bem assim... E me vi necessitado de linhas bestas e puras, sobre tudo felizes. Indo ao sabor dos carros corridos no fim de noite, fim de inverno e banco de praça à meia luz, que ainda não está no fim; graças a Deus.
Me venho passando bem nos ônibus, em rilhar dos trilhos; correndo e voltando sem correr, para um relógio que me perde de vista. Cochilo sentado. Ronco em pé.
To cansado: tenha dó!
È uma carta. Ainda continua sê-lo, mas sem muitas notícias plenamente fundamentadas. Só noticiosas. Falácia solta em linhas amiúde. E não foi? A lua de ontem estava lá toda prosa... Ria , brilhante. Linda!Festejava nada com duas estrelinhas sem-vergonha que lhe saltavam em redor. Borbulhavam límpidas no céu.
Grande notícia para uma carta.
E aí vão mais grandes notícias para uma carta.
Minha cidade, não muito preferida, mas ainda minha, continua enxada. Desordeira e inchando, vai ficando até sem lado para se espichar na sua constante inchadura.
E que festa! Sim senhor! Comemoram não sei o que, e não sei com que tempo. Sempre cheirando à churrasco e cerveja, as ondas e satélites repetem o comum do futebol burramente ampliado a escalas absurdas. Bola flatulenta também se vale de menção honrosa e reportagem.
Exagero é não gostar (dizem)!
E num ritmo frenético as coisas se arrastam. Marcha lenta para a grande minhoca-engarrafativa. Vai tomando tudo. E então a melhor opção de exercício matutino é o estirar-se lento e cumprido da metálica e carbônica minhoca-garrafa. Que se vai gritando pela avenida a fora de muita gente, uma minhoca-metálica gigante de voz buzinante.
Suores escorrem lentos como o dia. É inverno... Mas isso não acontece tanto. Só de vez em quando. . Um inverno seco, e quando chove, se cai pouco. Não tenho muito, afinal, para falar sobre isso.
Segue prosa.
Escorre carta.
Dança letra.
A caneta reza a sua ladainha. Reza em “i”.
Lá vai o rádio vomitando absurdos, num ritmo agitado, morno e néscio.
Coisa memorável de se notar: poucos cães, vagabundos sem pátria, vagam hoje na cidade.
Casais dançam imóveis numa dança burlesca sobre os bancos, frestas e escuros. Sem sair se cansam de lugar e vão-se embora, de mãos dadas. Ofegam sei lá por que (ou sei e me finjo de puritano; pura besteira)...
E por aqui vou ficando
E muito mais me “cartando”
Uma carta aberta
Carta absurda. Endereçada a quem interessar possa. Termina dizendo notícias de nada , numa cidade caótica. De ritmo besta, morta-de-chique, e de tanto sentido quanto esta carta .

Com'amor e sarcasmo
Caio Bessa

4 comentários:

nina disse...

Li seus comentários. Não respondi anteriormente por estar atarefada com o layout (o que me fez perder muitas coisas antes salvas).

Não mostrei tua carta a ninguém. Embora alguns insistissem. Não mostro as cartas que recebo, ou as crônicas que escrevo. Mas gostei da tua idéia de mandar uma para os meus pais. Mande mesmo. Mas não sei se eles terão tempo para responder, andam ocupados (sempre ocupados!)

"Uma carta Aberta" é postagem que devo comentar em carta também. Junto com outras duas tuas. Desse post eu gostei muito, parece uma mistura de conto e crônica. É pessoal, mas inventivo. Fora esse teu estilo: De sempre utilizar o cotidiano, o caminhar, é doce. É sutil.

Abraços!

nina disse...

Ah sim, olha quem pode se comunicar por carta tambem:
http://www.duventublog.blogspot.com/

Meu amigo Levi ventura. Ele prometeu dá uma passada aqui. FuI!

Éverton Vidal disse...

Grande Caio! Que bom que voltastes. E que texto. Outro texto Caiobessado, bem ao seu estilo. Andei lendo uns escriitores que me lembraram você. Clarice Lispector, por exemplo. Espero que dessa vez você fique a atualizar sempre o seu blogue.

Sempre aprendo muito por aqui, além é claro, do excelente passatempo que é te ler meu amigo.

Um forte abraço!
Inté!

Éverton Vidal disse...

Por sinal, meu novo endereço (do blogue) é: www.renovidade.blogspot.com

Inté!