domingo, 27 de abril de 2008

Descrição III ( É rindo que se escreve e des-creve )

A praça é estranha e as árvores escuras, retocadas por fumaças de odores duvidosos e amaços fortuitos na sombra das mãos que se vão por folhas secas, que apodrecem na brisa fresca e noturna , num domingo findo de outono.

Cansado, um entregador exausto se entrega a uma pestana lisa e rápida. E entre o cansaço e o sono, seus olhos se entreabrem, enquanto o ouvido coça extremamente incomodo.

Um boçal falador elogia uma atriz de peso em seu programa de cadente, numa mentira laudatória, em louvor aos mil vazios de sua emissora besta. Seguido de aplausos intensos de quem entende patavinas do que ouve, mas o faz ao comando de sua voz pastosa e abobada, regada por ditos gastos pelo tempo

Ao fundo uma dupla escorre de bicicleta indo para qualquer lugar, com bonés xadrez a combinar, um levando o outros, de azul e branco.

Uma senhora num carro “pop” espera em tédio profundo suas batatas fritas que caminham ma bandeja pelos pés de alguém, lento e prestativo.

Casal não muito efusivo reclama da lata de refresco de cola , num romance enlatado e barato: ela , moça com cabelo descolorido, seios grandes, perfume barato e “micríssimo” jeans em bermuda (ou cinto). O boné é preto ,e virado para trás, numa atitude infantil e comum, duma marca ignorável e cara.

Tentei, num esforço hercúleo, ver o vídeo dito cômico, mas a frase sem graça e sem bossa do apresentador boçal expulsa minha minha parca atenção. Frase sem graça e arrastada, um insulto a minha graça...

Quatro numa mesa. Casais. Sabe-se lá o brinquedo frito, com molho, que pedem para comer.

E num gesto “holofótico” todos olham para a minha caneta que dança entre os meus dedos ao compasso das linhas, enquanto meu sorvete derrete gelando minha língua , que por dentro se ri disso tudo.

Vem mais uma dupla ciclística cruzando a rua, assim: num átimo. Dois, o de mochila vai na garupa.

O sódio derrete uma luz amarela, pelas folhas de uma amendoeira comprida feito guarda-sol fino. Mais a direita e ao fundo uma outra amendoeira se espreguiça pequena e estática, olhando os parcos carros que circulam. Mesas de metais e capas sintéticas se alimentam dos sons de uma televisão próxima.

A grade da estação, de pé branco e dorso azul, olha para frente e para trás , guardando a estação e fuxicando silenciosa da praça e seus conviveres para as árvores-que–não-sei-o-nome, numa conversa longa tediosa e supostamente divertida (no que diz a minha imaginação). Mas ninguém escuta, para sorte delas.

Crianças fogem de suas mesas ao som de suas mães , numa calçada regada de papel e guimbas de cigarros já frias.

Casais diversos se esfregam num dormente verde-ferroso, com uma dança estranha e buliçosa ao som dos beijos e das sombras dos postes sem luz sódica.

Meretrizes devidamente “desvestidas” soçorbram sassaricantes numa esquina ignorável , enquanto sorriem e brilham fedorentas e olorosas de perfume barato e rasgado, esperando mais um carro para engolirem o motorista e o seu dinheiro-de-tolo , tão suado e mal usado.

Ao som de luzes brancas e fluorescentes, quatro anciões bêbados de cigarro, cigarram e jogam cartas iluminando reclamações mil numa voz apagada pela praça

Abobalhados e vazios de assunto balançam suas mãos para o alto , aos som de um conjunto de barulhos com uma voz que berra indecências nas entrelinhas, mas que todo mundo sabe. Ao longe idiotas urinam num muro com cigarro na boca, e se olhando, falando de alguma moça caridosa que lhes deu alguma coisa.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Zumbido Etéreo

*Me desculpem pelo sumiço. tive um feriado bem agitado, de sorte que tive apenas esses dias restantes para arrumar a bagunça dos afazeres. Peço perdão, pois gosto dos blogs que costumo sempre visitar. Não o fiz ainda por falta de tempo. Mas espero muito fazê-lo. Obrigadíssimo a todos! O apoio de vocês me mantém escrevendo*

Tempo em trânsito. Rodas em fúria escavam lentamente o asfalto já gasto e mal-tratado da avenida radial. Hora de fúria, no cansaço ao motor ruidoso sono e impaciência se misturam nos salões coletivos das máquinas “transportantes” de pessoas. A hora aperta , todos querem voltar , e uma cheia súbita de coletivos, caminhões e carros , tomam as pistas radiais, em busca dos seus cem-mil-destinos. Soma-se tudo e o inverso da fluidez acontece, pois carros e carrocerias não são fluídos, por isso a s estradas se enforcam de rodas e motores, um congestionamento, digno de um infarto.

Infarto fulminante. O Som desse grito é ensurdecedor: milhões de buzinas e motores , em uníssono absurdo, cantam sua canção urbana e caótica. Para desespero de uns; cansaço de todos. Como um zunido mortal, esta musica “asfaltíca” se espalha insulta os ouvidos mais cansados e desapercebidos. Nunca na história urbana, uma enchente de carros e carrocerias chegou à tamanha sinfonia escabrosa.

Etéreo insulto se torna, perturbando a alma dos seus viventes, que estridente vai rasgando naturalmente os céus e nuvens mais ingênuos.

A enchente motorizada e metálica ganhou voz etérea e absurda. E em resposta o sobrenatural há de dizer...

(E a sinfonia escaldante segue , em glorioso espanto e terror, se, se importar com o porvir)

Então desce em invisível cavalgadura, um súbito cinza-silêncio sobre a urbes , que sorrateiramente vai cobrindo a cidade em sua caótica harmonia sinfônica. O entalar ensurdecedor de fluxo de veículos é tomado de um pavor silencioso , num mortal “calamento” de tudo. E a sombra extraordinária vai cobrindo molécula por molécula, toda a orgulhosa sinfonia ás avessas, que de espantados vão deixando os “urbanos conviventes” estupefatos de pavor calado e surdo.

O silêncio do céu desce calado e impetuoso, como resposta ao absurda ao caótico orgulho dos motores num zumbido de pavor e castigo.

Zumbido etéreo: misterioso silêncio que calou homens, máquinas e motores , em suas orgulhosas carruagens urbanas cuspidoras de fumaça e gritos “rodantes” sobre o asfalto quente da tarde que se esvai em silêncio repentino.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Fim de prosa ( Parte III.. e a expectativa.. será que acaba? Nem eu sei...)

Olha que prosa mais formidável e estranha foi a ultima que nosso amigo passou. “Doidivânia” se foi, e vem uma senhora bem elegante já na curva do banco ,para esperar um ônibus. De coincidência ou não , é o mesmo que ele vai pegar amanha pela manhã. Mas que no caso de Domingo já noitinha iniciando, demora, e parece que nem chega às vezes , de tão demorado!

E voltava com um copo grande de açaí-gelado-roxo de colher na língua e gosto na mão, vai passando aquela gana medonha de fumar. Ficou só um pouquinho, parece que está se acalmando. Por que será? Acreditem, leitores e leitoras, ele vai descobrir ...

E Ao sentar-se , todo sorvente e roxo-frio, encontrou simpática senhora, com um rosto gasto de anos e coisas diversas de adversidades. Blusa simples saia simples, bolsa assim: à combinar.

Olhou para o moço sorvente, ela muito sorridente, perguntou do ônibus. “Hi! Acabou de passar. Demora”. Perguntou se incomodava uma prosa. Disse ele, com gosto de roxo-frio na mão , que não. Aceitaram-se ambos, embora idade. A noite de domingo já vinha e estava lá. Ele sozinho ela esperando. E aqui vai mais uma alfinetada ao pobre entediado de açaí-gelado-roxo na mão.

Ela dizia, que ônibus já demorou mais. Ele atento, ouviu de tudo. De conduções que tinham, mas não tinham. Do bonde. Dos trilhos. “meu pai trabalhava no Rio. Em Santa Tereza” E ela pequena , adolescente. Amigas . Mil situações.

“Masentão” uma lágrima. Nosso moço, coitado (eu ruim, nem nome lhe dei; não quis , por capricho, maldade e rebeldia) , ficou sem saber e gelado feito seu açaí-pela-metade, parou e ouviu tudo.

Pois então ai vai : “ Mas nessa idade moço. Eu era nova, muito bonita. Mocinha. Meu pai entrou num desespero tão grande. Naquele tempo, 1960 e poucos, mulher já trabalhava. Minha mãe trabalhava de atendente numa loja de granfino. Mas um dia ela fugiu. Nunca mais eu soube da minha mãe. Fiquei anos , muito tempo de pois, procurando paradeiro dela. Meu pai foi se afundando mais. Tentou trabalhar. Até conseguiu por uns anos. Porém a cachaça chamou ele mais alto. Era só eu de filha. Depois eu fui trabalhar, como caixa num supermercado grande. Trabalhei por lá por uns 5 anos. Eu já cansada de cuidar do meu pai. Ele morrendo. Quis fugir.

Ai eu conheci o pai dos meus filhos. Ele tinha um carro bonito. Era filho de um dos donos daquele supermercado. Nós queríamos fugir dali. Então numa madrugada silenciosa, nós fugimos. Viemos para cá. Nos escondemos. Agente foi ficando junto, não conhecíamos ninguém.

Achei que tivesse apaixonada. Geração paz e amor... Nem casei, mas continuei trabalhando. Fiz doce, lavei, passei. Costurei muito para muitos. Vieram os filhos, nós até brigávamos. Mas não muito. Ele cismou de trocar de carro. Era com um motor no coração, parecia ser movido à gasolina.

E trabalhava por um carro. E comprou. Veio um tempo de aperto. Meu trabalho não dava. Falei com ele. Ele dizia que era assim, que só tinha isso para oferecer. Um dia eu me cansei. Falei para ele que naquela noite ele tinha apenas uma opção pegar o seu carrão e sair dali. pois quem pagava a casa era eu. E ele foi , eu nunca mais o vi. Minha prima , bem mais novinha. Cansada da minha tia, me achou e veio morar aqui. Ajudava-me com os dois, enquanto eu estudava e trabalhava . ME formei. Passei me concurso. Trabalhei criei filhos. Nunca mais vi o pai deles. Minha prima casou. Ajudei com os filhos dela.

Vivi.

Meu ônibus!”

E assim o ônibus veio. Aquela senhora e sua vida sofrida e linda passou. Nosso amigo ficou lá , olhos cheios d’água , sem saber o que mais sorver. Dizem que misericórdia é você se ver nos olhos do sue oponente, ver sua gana pro mal, como sue “oponente”.

Ouviu. Viu que também era egoísta. E entendeu porque sua gana de fumar passara e também do imenso-tédio-de-teto-alto que sentia ali.

Levantou. Jogou o açaí fora. Limpou os olhos.

Se vai haver continuação disso ou não não sei. O importante é que alguma coisa nele mudou. Fui cruel, reconheço.

Mas foi divertido

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uns alunos me deram este presente (turma 2001): família

-> Este post é fruto de uma aula que tive com meus alunos na última quinta feira.


Trazia entre os dedos um cigarro estranho com uma fumaça de matar. O bolso estava cheio de algo que parecia uma arma de tirar susto a qualquer um desentendido do assunto. E se ia pela rua como desnorteado, como bebido toda cachaça do mundo, ou alucinado como cheirado toda a cocaína do mundo ou um no vício da maconha.

A sensação era de doer. Sentia um torpor amargo na boca, devido a tristeza e angústia que passava naquele momento.

A madrugada se arrastava de ir embora, e o dia vinha chegando, sem licença ou bater de porta para entrar. Nem ao menos uma permissão, apenas vinha; e pronto.

Uma mentira chorava no seu coração. Não era possível. Como o galopar do dia se vinha, a falsidade achou sela e não parava. Veria de qualquer jeito. Mas sabia que não estava enganado. O amanha chegava, e a vontade era de parar com as brigas, de gritar com voz chorosa por dias mais amenos e mais pacíficos.

Ainda amava , e continuaria amando. Pois amar se aprende mesmo amando, praticando amor; abrindo mão daquilo que tanto se quer pela felicidade de outro. Mentiram traições e a desigualdade não passava. E por mais desigual que as coisas fossem, amaria.

Alta noite já passou, madrugada dança sua ultima canção. O dia vem com o céu púrpura, de promessas , raiando um sol de novidade estranha.

Era possível aceitar que tinha um pai vivo. E viu com os seus de semelhança e descrença que era realmente seu pai. No rosto uma lágrima que passa por um borrão de briga , pois não foi aceito pelo seu meio irmão. Brigaram na sala.

Continuaria amando? Que era esse sentimento pungente que lhe dominava o coração ferido, descrente e surpreso. Madrugada já fez seu baile e o dia chega. Pessoas já saem para seu trabalho.

Uma roda de aros de bicicleta lhe chama com alguém dono de uma voz conhecida e recente. Um rapaz , como ele, para, olhos inchados de chorar também. A ternura do choro minou aquela raiva repentina de algumas horas atrás.

- Sei que você não tem culpa de nada. Acho que começamos errados. Se vamos ser irmãos, vamos começar como uma família...

Manhã chega laboriosa. Propõe novos trabalhos para todos.

domingo, 6 de abril de 2008

Exercício de imaginar I

Eu costumo, devido a minha imaginação infantil e hiper-ativa, quando ouço algumas músicas, imaginar algumas cenas. Esse “post” aqui é fruto disso: imaginação pueril e fértil. Como eu gosto de umas músicas diferentes , peço que não estranhem as referências. Achei-as fácil na Internet. E se as quiserem, eu as passo. Eis as ultimas mini narrativas.


  • Mohamed Reza Shajarian – Night silence desert- Rain – 00:09:35

O Sol vai acompanhando a areia fina que levanta a cada passada esguia da montaria. Seu corpo na montaria vai balançando ao sabor do vento, com os seus olhos amarrados ao rosto pelo fino preço da seda azul que impede que o vento do deserto lhe “desertifique” a boca também. No corpo um tecido grosseiro, grosseiramente lavados, com resquício de manchas rubras de batalhas passadas,e na cintura, fina “prátea” lâmina, numa bainha de marfim e metal polido.

Suas façanhas enumeram-se por toda Pérsia e seu império. Pés ligeiros como o vento do deserto; lâmina "dançante" feito o vapor do deserto distorcendo a imagem ao longe. Um olhar sereno que esconde a fina dor de sangue alheio derramado. Saudade lancinante de uma vida comum banhada pela fama de exímio guerreiro. Dizem as toadas de grandes rimas chorosas que muitos já caíram,e de uma só vez, pelo rápido mover de sua lâmina, mas seu coração mesmo reclama da saudade e do vazio de sua esposa. Amor que não vingou há anos. Amor que o trouxe para o calor da batalha.

O dia se esvai qual areia em ampulheta,e a noite abraça o dia tornando o céu rúbreo de estrelas e a lua como um minarete, no alto do céu, já-vem surgindo. Seu corpo marcado de cortes e dores diversas, vai chegando aos portões da renomada cidade. Num gesto falado , de comunicação leal entre montaria e seu dono, ele desmonta, puxando com carinho pelas mãos , seu fiel amigo de jornada.

A noite vai caindo com o orvalho de saudades, de longe , uma canção antiga lhe lembra dias remotos, de paz que jamais voltarão. Desata o nó de fina seda do rosto, revelando um olhar cansado da viagem. Mais um dia se vai n deserto, e a vida continua sob o fio de sua renomada espada ligeira. Ligeira feito o vento que traz a areia.

  • The Shoes of Fisherman’s Wife and Son – Charles Mingus – 00:09:35

Um som “estalante” de firme calçado pisado contra o mármore do chão do magnífico prédio luxuoso, com características de “art-nouveau”, ecoava por todo o hall de entrada. Não chegava a exatamente chamar a atenção de todos , pois a correria era grande. Pessoas entrando e saindo, e malas indo para fora e para dentro das dependências do hotel com seus ajudantes de vermelho.

Ela chegou pisando forte e delicada em seus calçados prada, casaco discreto e rosto branco, fino de matar. Um olhar comum e paciente lhe cobria o rosto enquanto alguns homens lhe dirigiam uma rápida cobiça silenciosa. Vestido preto, com negros cabelos, caminham languidamente para o balcão de recepção do distinto e caro hotel, presente nas mais diversas narrativas deste gênero, recebia sua voz calma, sensual e baixa. Discretíssima, como sua bolsa preta de material puro.

Num gesto simples ela recebe a chave, dá um sinal da graça de sua beleza que se estadia naquele lugar. Agradece gentil e formal. Chama sua mala com um rapaz simples em vermelho. Toma um elevador.

O corredor branco se contrasta com seu discreto preto de roupa e seu caminhar feminino, de luxo, mas simples, sem chamar a atenção. Mala vem atrás, de vermelho, laconicamente. Uma porta indica a numeração desejada. Abre-a sem cerimônia, porém simples. O uniforme vermelho-lacônico, com chapéu circular feito lata de doce, recebe uma gorjeta , e o rapaz simples agradece.

Ele vai descendo o corredor de volta ao elevador, rápido para as próximas malas que hão de subir. A porta do elevador apita a chegada de mais um itinerário que desce. E o barulho das portas se abrindo é interrompido por um estampido rouco, rápido e rasgante. Um tiro, se assusta e corre, temendo pelo vestido preto no formato da bela moça que trouxe minutos atrás.

sábado, 5 de abril de 2008

“Doidivânia” – a mulher-veneta (incrível continuação parte II... mas sem missão)

E como relatava, Ela ficou ali falando, chorando, nem mesmo o nosso amigo entendia o que estava acontecendo ali. Continuava com o seu açaí, o copo estava chegando na metade. Ela sentou chorando. Ficou olhando para o nada chorando. Jurou uma vingança boba. Não podia deixá-la a pé naquele fim de mundo. Logo ela, tão bonita. E ficou ali se elogiando, elogiando como todos nos bailes da vida cobiçam sua beleza, de como dança bem, quantos já fez... Essas coisas.

Mas uma raiva tão tola, tão besta, tão sem sentido. E apertava o pulso dizia que nã oera mulher de andar de ônibus. Como ele faz isso com ela... E raiva para cá, e desamor para lá, e choro sentido. Limpa o nariz. Escorre maquiagem. Passa ônibus.

Açaí derrete. Nosso amigo olha de esguelha para moça. Moça chora, de ódio , de raiva, sanha de mulher fácil.

Olha.. Que vontade de acender uma fumacinha. Seria charmoso agora, ele pensa, um desdém de gesto contido. Se segura, vai parar de fumar e ponto. Mais uma colherada olhando para ela. Açaí ta acabando e derretendo. Até que a “cinto-em-cima-cinto-em-baixo” solta algo terrível e risível:

- Você me acha gostosa?

Ele levanta. Olha para ela com cara de não–sei-o-quê, joga o copo no lixo do ponto de ônibus, resmunga comparando ela como uma argola de ouro na orelha de um macaco: não tem sentido.

Só reparando na cara de sem graça que ela faz. Tenta ajeitar o que não se ajeita, pois os “cintos” parece que vão explodir no corpo da moça.

Pensou consigo o que a moça tinha de largada, tinha de nova. E na ânsia que buscar outro açaí para distraí a vontade de fumar , vai a passos preguiçosos resmungando:

- Como querer uma mulher que nem sabe o que é ser mulher?

Ele falou bonito. Eu penso isso, ele também. Como escritor dessa coisa toda tenho acesso a esse nível. E já saindo a moça diz:

- meu nome é Vânia

- Então moça é doidivânia, porque você é maluca! Onde já se viu falar com estranhos desse jeito...

E sai todo sorvente, querendo açaí para disfarçar a gana de cigarro. Queria voltar para casa, mas sozinho e sem moveis pioraria tudo. Procurou o bolso para mais um copo de açaí. “Etâ vontade besta! Vai passar...”

E voltou para o banco pedinte de limpeza do ponto de ônibus. Doidivânia foi doidivanar em outro lugar, em fim a sós de novo. Pedia uma fumacinha, pensou.

Mas quem disse que eu quero deixar esse sujeito em paz com seu recém-açaí, com vontade de fumar à queima roupa?

Pois só de implicância Vem uma senhora, muito bem arrumada, na casa dos 50. Saivá verde , camisa azul e bolsa discreta para combinar. São quase 17 horas e 30 minutos, a tarde ta indo.. e a Senhora vindo...