domingo, 6 de abril de 2008

Exercício de imaginar I

Eu costumo, devido a minha imaginação infantil e hiper-ativa, quando ouço algumas músicas, imaginar algumas cenas. Esse “post” aqui é fruto disso: imaginação pueril e fértil. Como eu gosto de umas músicas diferentes , peço que não estranhem as referências. Achei-as fácil na Internet. E se as quiserem, eu as passo. Eis as ultimas mini narrativas.


  • Mohamed Reza Shajarian – Night silence desert- Rain – 00:09:35

O Sol vai acompanhando a areia fina que levanta a cada passada esguia da montaria. Seu corpo na montaria vai balançando ao sabor do vento, com os seus olhos amarrados ao rosto pelo fino preço da seda azul que impede que o vento do deserto lhe “desertifique” a boca também. No corpo um tecido grosseiro, grosseiramente lavados, com resquício de manchas rubras de batalhas passadas,e na cintura, fina “prátea” lâmina, numa bainha de marfim e metal polido.

Suas façanhas enumeram-se por toda Pérsia e seu império. Pés ligeiros como o vento do deserto; lâmina "dançante" feito o vapor do deserto distorcendo a imagem ao longe. Um olhar sereno que esconde a fina dor de sangue alheio derramado. Saudade lancinante de uma vida comum banhada pela fama de exímio guerreiro. Dizem as toadas de grandes rimas chorosas que muitos já caíram,e de uma só vez, pelo rápido mover de sua lâmina, mas seu coração mesmo reclama da saudade e do vazio de sua esposa. Amor que não vingou há anos. Amor que o trouxe para o calor da batalha.

O dia se esvai qual areia em ampulheta,e a noite abraça o dia tornando o céu rúbreo de estrelas e a lua como um minarete, no alto do céu, já-vem surgindo. Seu corpo marcado de cortes e dores diversas, vai chegando aos portões da renomada cidade. Num gesto falado , de comunicação leal entre montaria e seu dono, ele desmonta, puxando com carinho pelas mãos , seu fiel amigo de jornada.

A noite vai caindo com o orvalho de saudades, de longe , uma canção antiga lhe lembra dias remotos, de paz que jamais voltarão. Desata o nó de fina seda do rosto, revelando um olhar cansado da viagem. Mais um dia se vai n deserto, e a vida continua sob o fio de sua renomada espada ligeira. Ligeira feito o vento que traz a areia.

  • The Shoes of Fisherman’s Wife and Son – Charles Mingus – 00:09:35

Um som “estalante” de firme calçado pisado contra o mármore do chão do magnífico prédio luxuoso, com características de “art-nouveau”, ecoava por todo o hall de entrada. Não chegava a exatamente chamar a atenção de todos , pois a correria era grande. Pessoas entrando e saindo, e malas indo para fora e para dentro das dependências do hotel com seus ajudantes de vermelho.

Ela chegou pisando forte e delicada em seus calçados prada, casaco discreto e rosto branco, fino de matar. Um olhar comum e paciente lhe cobria o rosto enquanto alguns homens lhe dirigiam uma rápida cobiça silenciosa. Vestido preto, com negros cabelos, caminham languidamente para o balcão de recepção do distinto e caro hotel, presente nas mais diversas narrativas deste gênero, recebia sua voz calma, sensual e baixa. Discretíssima, como sua bolsa preta de material puro.

Num gesto simples ela recebe a chave, dá um sinal da graça de sua beleza que se estadia naquele lugar. Agradece gentil e formal. Chama sua mala com um rapaz simples em vermelho. Toma um elevador.

O corredor branco se contrasta com seu discreto preto de roupa e seu caminhar feminino, de luxo, mas simples, sem chamar a atenção. Mala vem atrás, de vermelho, laconicamente. Uma porta indica a numeração desejada. Abre-a sem cerimônia, porém simples. O uniforme vermelho-lacônico, com chapéu circular feito lata de doce, recebe uma gorjeta , e o rapaz simples agradece.

Ele vai descendo o corredor de volta ao elevador, rápido para as próximas malas que hão de subir. A porta do elevador apita a chegada de mais um itinerário que desce. E o barulho das portas se abrindo é interrompido por um estampido rouco, rápido e rasgante. Um tiro, se assusta e corre, temendo pelo vestido preto no formato da bela moça que trouxe minutos atrás.

9 comentários:

Anônimo disse...

Não sou cristão, sou Ateu. Diferente de todos Ateus não me fecho na minha não teologia, pelo contrário, me abro em direção a minha vãn filosofia. Imaginal infantil foi boa, mas quem me dera se todos estivesse essa imaginação. Na psicologia ela é conhecida como sinestesia. Muitos escritores, músicos e pintores sofre ou favorece dessa condição . Nessa caso vc é sinesteto. nossa q inveja!!!!!!!!

se cuida

Amanda Beatriz disse...

e eu achava que tinha a imaginação fértil! acho que nunca viajei assim ouvindo música!
beijos!

Éverton Vidal Azevedo disse...

Fiquei com vontade de ouvir as músicas... Imagino cenas tb com músicas, normalmente instrumentais (Hermto, Egberto Gismonte, etc). Tem momentos que o que eu quero é: Música + varanda + cachimbo + café + imaginaçao...

Clareana Arôxa disse...

é o máximo fazer isso, você não é o único, acredite.

Quanto as palavras deixadás por lá, muito obrigada.Tenho uma "sede" por vida mesmo e talvez isso se reflita nos meus textos.
Volta lá periodicamente,sim. Voltarei por aqui também.

beijo!

nina disse...

Vivo de música desde os nove quatro anos, quando levei a serio o fato de ser pianista. Somente aos onze entrei numa escola de musica e começei a estudar flauta transversal. É um romance secreto. Só me inspiro quando ouço alguma favorita.

Me passe, por favor, estas suas.

Digão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Digão disse...

Oi moço, vc não falou demais no Confissões não viu, rs
Quanto à imaginação pueril e fertil, rs tb sou assim, pior que uma criança as vezes, confesso, hehe
Adorei suas imaginadas, rsrs
Abração

Moni disse...

Olá....

Nossa.... você escreve muito bem...
Já pode ateh fazer um livro...

Huauhauhauhah

Lendo o seu blog e analisando suas narrativas... são muito boas.... passa muita realidade...

Continue com sua imaginação fértil


beijoss

Unknown disse...

Caio, definitivamente brincar com os sentidos é algo presente em seus textos, vc joga c eles ricamente: há momentos em que eles estão em seus lugares convencionais, em outros a sinestesia faz uma festa com os mesmos. Uso "brincar" pq esse recurso dá uma leveza ao seu texto, apesar dele ser pra lá de intenso.
Outro ponto marcante, não só nesse texto, é a personificação, tudo toma vida: a espada, a areia. Isso porque estamos falando desse texto, mas em qq outro de sua autoria os objetos estão lá vivíssimos e altamente reveladores...Adorei!!!!