sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uns alunos me deram este presente (turma 2001): família

-> Este post é fruto de uma aula que tive com meus alunos na última quinta feira.


Trazia entre os dedos um cigarro estranho com uma fumaça de matar. O bolso estava cheio de algo que parecia uma arma de tirar susto a qualquer um desentendido do assunto. E se ia pela rua como desnorteado, como bebido toda cachaça do mundo, ou alucinado como cheirado toda a cocaína do mundo ou um no vício da maconha.

A sensação era de doer. Sentia um torpor amargo na boca, devido a tristeza e angústia que passava naquele momento.

A madrugada se arrastava de ir embora, e o dia vinha chegando, sem licença ou bater de porta para entrar. Nem ao menos uma permissão, apenas vinha; e pronto.

Uma mentira chorava no seu coração. Não era possível. Como o galopar do dia se vinha, a falsidade achou sela e não parava. Veria de qualquer jeito. Mas sabia que não estava enganado. O amanha chegava, e a vontade era de parar com as brigas, de gritar com voz chorosa por dias mais amenos e mais pacíficos.

Ainda amava , e continuaria amando. Pois amar se aprende mesmo amando, praticando amor; abrindo mão daquilo que tanto se quer pela felicidade de outro. Mentiram traições e a desigualdade não passava. E por mais desigual que as coisas fossem, amaria.

Alta noite já passou, madrugada dança sua ultima canção. O dia vem com o céu púrpura, de promessas , raiando um sol de novidade estranha.

Era possível aceitar que tinha um pai vivo. E viu com os seus de semelhança e descrença que era realmente seu pai. No rosto uma lágrima que passa por um borrão de briga , pois não foi aceito pelo seu meio irmão. Brigaram na sala.

Continuaria amando? Que era esse sentimento pungente que lhe dominava o coração ferido, descrente e surpreso. Madrugada já fez seu baile e o dia chega. Pessoas já saem para seu trabalho.

Uma roda de aros de bicicleta lhe chama com alguém dono de uma voz conhecida e recente. Um rapaz , como ele, para, olhos inchados de chorar também. A ternura do choro minou aquela raiva repentina de algumas horas atrás.

- Sei que você não tem culpa de nada. Acho que começamos errados. Se vamos ser irmãos, vamos começar como uma família...

Manhã chega laboriosa. Propõe novos trabalhos para todos.

2 comentários:

nina disse...

Gostei do texto. Mas tenho uma pergunta: És professor de literatura (ou gramática)?

(Se for assim, tô ferrada: Cometo muitos erros gramaticais em meu blog. Que vergonha...)

Éverton Vidal Azevedo disse...

Sim, sim. Eua ia fazer uma pergunta semelhante... Vocè é professor de literatura né?

O texto é ótimo (nem preciso dizer nao é).